Domingo, 26 de Março de 2023 |

Colunista


Conversando sobre o cotidiano


Paulo Franquilin


franquilin.pc@gmail.com


Viver ou gravar

As imagens das comemorações da passagem do Ano Novo mostraram as pessoas mais preocupadas em registrar o que estava acontecendo, do que viver o momento junto às demais.

A tendência de mostrar cada segundo em imagens, registradas nas redes sociais, teve um impulso maior a partir da pandemia, que tornou as pessoas mais isoladas e reclusas ao espaço de suas casas.

O uso dos aparelhos eletrônicos é um costume inserido na sociedade contemporânea, desde a mais tenra idade das pessoas, pois até bebês estão grudados às telas, com desenhos e jogos infantis.

A dificuldade de interagir com outros seres começa cedo, sendo comum as crianças, isoladas em seus aparelhos, mesmo nos espaços com brinquedos, numa tendência ao sedentarismo e imobilidade.

Nas escolas, quando voltarem as aulas presenciais a pleno, haverá dificuldade para os professores atraírem a atenção dos alunos, após dois anos de aulas virtuais, com os estudantes isolados nos seus lares.

Já os adultos, que tiveram oportunidade de viver o trabalho remoto, estão sentindo dificuldades na adaptação ao retorno ao convívio com colegas e trabalho presencial.

As redes sociais são um meio de interação com os demais, porém não é uma realidade, é uma ilusão que adotamos ao nosso cotidiano, numa enorme preocupação em postar, ter curtidas e comentários.

O costume de registrar é uma mania, que se alastra, porque nos locais de convivência coletiva, que reabriram após a vacinação, as pessoas filmam a comida, o palco, o cenário, fazem selfies.

Olhar para o outro e conversar, aproveitar uma boa comida ou bebida, mergulhar no mar, caminhar de mãos dadas, talvez trocar carinho, ouvir os sons da natureza, tornem-se práticas que vamos esquecer.

Ainda há tempo de refletir e tentar viver a realidade que nos cerca e conviver com as outras pessoas, deixando os registros digitais num segundo plano em nossas vidas.

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