Sexta-Feira, 24 de Março de 2023 |

Colunista


Conversando sobre o cotidiano


Paulo Franquilin


franquilin.pc@gmail.com


VALORIZAÇÃO DO IMPORTANTE

Estamos vivendo numa sociedade doente, passamos mais tempo na frente da tela do computador do que conversando com as pessoas, isolamos o mundo, ficamos retidos no espaço de centímetros, olhando fotos e acontecimentos que acontecem longe de nós, sem dar atenção ao que acontece ao nosso lado, somos indiferentes à dor real e ficamos revoltados com a dor virtual.
Deveríamos mudar nossas atitudes, mas estranhamente quando encontramos um amigo logo questionamos: qual o teu face ou se tem twitter para conversar e nos despedimos com pressa. Mas no mesmo dia passamos a conversar no bate-papo. Estamos muito conectados e se não estivermos assim somos anacrônicos, ultrapassados, velhos.
Conversar, trocar idéias, jogar conversa fora ao vivo não tem graça, temos que digitar no computador, tablet ou celular, falar através da máquina. Estamos adoecendo mentalmente, temos compulsão pelos aparelhos, se não estivermos com eles por perto estamos desamparados.
E fotografar então? Cada segundo tem que ser repartido com o mundo, se não tirarmos foto de nosso jantar e expomos para nossos amigos, a refeição não tem o mesmo sabor, tiramos fotos sorrindo ao lado de pessoas, mas não falamos com estas pessoas.
Somos escravos de um mundo que não existe e que não podemos tocar, mas iludidos, compartilhamos nosso tempo com este mundo, deixamos de lado outras experiências e levamos nossas crianças e adolescentes neste caminho, cada vez mais cedo envolvidos em digitar textos nas telas, olhando mundos diferentes, despreocupados em viver a realidade.
Será que o mundo digital é o mais importante em nossas vidas?
Perderemos o beijo de quem amamos, a voz de quem gosta de nós, o abraço dos filhos, a brisa da manhã, o sabor da chuva, o olhar que nos cativa. Sem falar de nossas emoções que se dispersarão no mundo digital, ficaremos alegres com a foto de um cachorrinho, mas não teremos tempo para sorrir com nossa família. Seremos reconhecidos como heróis por nossas postagens, mas não seremos exemplo para nossos filhos, pois não expomos nossos valores para eles.
Quando olharmos para a realidade, veremos que envelhecemos, nossos filhos estarão adultos e grudados num computador, indiferentes à nossa solidão, a cor da existência terá desbotado e ficaremos tristes por não termos dado importância ao que realmente interessava: nossa vida.

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