Por Pr. André Gonçalves em 01 de Novembro de 2012
Se alguém te perguntasse na manhã de 31 de outubro, que acontecimento famoso é comemorado nesta data, o que você responderia? Bem, há mais ou menos uns 12 anos atrás, eu responderia que é o Haloween, festa celebrada anualmente nos Estados Unidos, e, que é um momento das crianças ganharem doces e se divertirem fantasiadas pelas ruas, e, que no Brasil, comemora-se com festas temáticas entre amigos. Obviamente que o Haloween segue sendo lembrado nessa data. No entanto, há mais ou menos 12 anos atrás, por meio das aulas de História na escola, e, por meio do contato com a Igreja Luterana, aprendi que no dia 31 de outubro é comemorada a Reforma da Igreja, ou, como prefiro chamar, a Reforma Cristã. Mas, por que afinal de contas, o dia 31 de outubro? Bem, há uma razão histórica: Porque foi no dia 31 de Outubro de 1517, que o monge alemão Martinho Lutero, fixou na porta da Igreja do Castelo de Witenberg, Alemanha, um documento que ficou conhecido mundialmente como “as 95 teses”. Mas, afinal de contas, por que um documento afixado na porta de uma igreja na Europa, em meados do século XVI, tornou-se um marco histórico, a ponto de ser lembrado até os dias de hoje, e, tornado Martnho Lutero e a reforma da igreja, assunto de estudo nas aulas de História? Pelo impacto social e universal que causou. E porque se tornou um acontecimento importante no meio do cristianismo? Porque o propósito e o conteúdo dessas 95 teses, devolveram a Igreja Cristã a certeza bíblica de que Jesus Cristo, o Filho de Deus, veio ao mundo e deu a sua vida na cruz, mas, ao terceiro dia ressuscitou. E, que este evento divino realizado por Jesus na história humana, foi o meio escolhido por Deus para dar perdão, vida e salvação a todos aqueles que confiam nessa obra graciosa e amorosa realizada por ele. Essa obra realizada por Cristo, transmitida na Igreja Primitiva e defendida e ensinada pelos cristãos, havia sido trocada na Idade Média pelo ensinamento de que só receberia o perdão, o amor e a aceitação de Deus, o ser humano que pagasse por isso. Logo, nessa época, o termo indulgência deixou de significar o perdão concedido por Cristo por meio da igreja enquanto sua embaixadora, e, passou a ser o produto adquirido pelo fiel em troca do seu perdão. É nessa época que objetos considerados sagrados, tais como: a suposta cabeça de João Batista, um dos pregos que seguraram Jesus na cruz eram postos a mostra dos fies, que, mediante um pagamento, o contemplavam e recebiam com isso, diminuição na pena dos seus pecados. Sem contar claro, no documento que era comprado pelos fiéis, e, onde constava a declaração de que estariam perdoados por Deus, o que chamaram de Indulgência, desvirtuando assim, o significado e prática que esta palavra tinha na Igreja até então.
É neste contexto que Martinho Lutero cresceu. O monge que antes estudara Direito, abandonou a faculdade para se tornar monge, porque, o ensino da época em que viveu, lhe fez acreditar que Jesus Cristo era um juiz severo, que, não tinha dó nem piedade do ser humano diante de suas falhas. O medo do inferno, do castigo de Deus e da ira divina, o coagiu a tornar-se monge e flagelar-se diariamente, pensando que assim, Deus teria pena dele. Foi então que, em meados de 1512, quando passa a ser doutor em Teologia, e, passou a lecionar na universidade, que Lutero teve contato mais direto com a Bíblia, e que, além do livro dos Salmos que muito gostava, teve contato com o texto bíblico que transformou para sempre a sua vida, e, a vida religiosa do cristianismo, que teve de volta o ensino da graça e do amor de Deus por meio de Cristo Jesus. O texto de Romanos que diz: “visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: “o justo viverá por fé” (Rm 1.17). A luz deste texto, e, de todo o texto bíblico, Lutero percebeu que na fé em Cristo Jesus, o ser humano encontra tolerância, amor, cuidado e justiça da parte de Deus. Aí Lutero entendeu porque Cristo morreu na cruz: Porque sendo perfeito, ao contrário de nós, Cristo morreu voluntariamente sem culpa nenhuma, e assim, transferiu a sua justiça para cada um de nós pecadores, de modo que, mesmo imperfeitos e pecadores por causa do pecado original, recebemos gratuitamente todas as bênçãos de Deus, inclusive, a de sermos considerados seus filhos. Isso não significa que Deus é leviano, ou, que tolera o pecado. Mas, que Cristo sofreu dolorosamente e pagou com o seu sangue por cada um de nós, e, por isso, a nossa dívida está paga por Cristo. O que também explica que a fé em Cristo é o que salva o ser humano.
E, este conteúdo, esse ensinamento bíblico, foi o que Lutero colocou em suas 95 teses, mostrando que o ser humano não é aceito e perdoado por Deus mediante pagamento dos seus bens, mas, é aceito gratuitamente através do pagamento realizado por Jesus Cristo, que, o fez por amor e por graça, a fim de nos aproximar de Deus e de nos dar liberdade de fazermos bem não com medo da condenação de Deus, mas, por alegria e por gratidão de sabermos que ele já nos aceitou, nos ama e nos perdoa quando falhamos, mas, reconhecemos nossos erros. E, isto é o que torna o dia da Reforma como uma data a ser comemorada por nós: É o dia em que o ensinamento central da Bíblia, a qual nós cremos ser a palavra de nosso Deus, foi novamente ensinada ao povo e revelando assim aquilo que acreditamos: que Cristo é o nosso Salvador. Foi o dia em que a humanidade foi lembrada novamente de que foi para a liberdade que Cristo nos libertou (Gálatas 5.1). Qual liberdade? Liberdade para ajudar ao próximo, sorrir, ter momentos alegres e saudáveis com a família e com os amigos, estudar, aprender, trabalhar, descansar, frequentar a Igreja, na certeza de que Deus está conosco, pois, a justiça de Cristo nos deu uma nova vida. Feliz dia da Reforma a todos.