Por Redação em 21 de Março de 2014
Primeiro tiraram-me de minha mãe e irmãzinhos, logo a seguir entregaram-me para umas pessoas estranhas das quais nada sabia.
A casa era estranha, moravam algumas crianças, uns avôs, e pessoas adultas que apenas davam ordens. Pensei comigo “com tanta gente, serei bem cuidado”, pois as crianças me agarravam no colo a todo instante e brigavam para saber quem me daria um nome.
Meu nome acabou ficado Bob. Nos primeiros dias todos cuidavam de mim, viam se eu tinha água, comida, se estava com frio. O tempo passou, comecei a crescer, já não me deixavam mais ficar dentro da casa, colocaram alguns papelões na área de serviço e ali comecei a dormir, sem falar que ataram algo ao meu pescoço e prenderam com corrente a uma estava. Ouvia gritos dizendo, este cão está muito grande, faz muita sujeira e come demais.
Pensei comigo: será que eles não sabiam que animais crescem, comem e também fazem necessidades quando me conheceram? Passei a ficar inseguro e cada vez mais triste, ninguém mais brincava comigo ou disputava a minha atenção. Em seguida começaram os empurrões e gritos para que saísse de sua frente, que fosse para um canto qualquer.
Fiquei apavorado, e pensei – “já me tiraram minha mãe, me trouxeram para um lugar estranho. Quando estava me acostumando com o novo lar, eles me tiram o carinho, a atenção, e até os cuidados mais básicos, porque? Alguém pode me dizer?”
Ninguém me respondeu, não entenderiam, sequer me olhavam. Comecei a achar as respostas observando o que acontecia ao meu redor. Naquele momento começava o abandono. Primeiro o de sentimentos, o de cuidados e a certeza: virá o físico. Me jogarão para as ruas, pois somente dou despesas e causo sujeira. Vejo a insatisfação deles.
Meus deus, o que farei? Não tenho ninguém que me represente, que me defenda. Existem as ONGs, mas pelo que vejo ou escuto elas existem para aparecerem na mídia, pois quando precisam proteger cães como eu nunca tem espaço suficiente, e a maioria dos municípios não tem abrigos para animais descartáveis, pois nós não votamos. Portanto não existe um interesse em nos proteger, eles não terão retorno.
Sei que o meu destino já está selado. Irei para as ruas, a mercê de motoristas desmiolados, pessoas sem escrúpulos, as intempéries do tempo. Mas tenho esperança de que, quem sabe, eu ache alguém que se interesse o bastante por mim e me leve consigo.
Pessoas, por favor, pensem antes de me levarem para suas casas. Eu sou um cão mas tenho sentimentos. E mais: abandono é crime, tanto legal quanto moral. Pense.
Heloisa Angeli