Por Redação em 16 de Outubro de 2020
Que nem cusco na geada
Tô esperando minha hora,
Olhando prá invernada.
Queria tanto estar lá fora
Até o último momento,
Mas o dono do firmamento
Me deixou viver demais,
Agora só no pensamento,
Corro, cavalgo no vento.
Forças não tenho mais.
Sou velho gaudério em paz
Com o tempo quase acabado,
Mas já estou bem preparado
Pra ir morar com as almas.
Não quero saber de tristeza
Na beira do meu caixão.
Em vez de flores, quero palmas,
No lugar da vela, um vanerão.
Uma prenda cantando a beleza
Do nosso querido rincão
Prá quando chegar a hora
Do tal adeus derradeiro,
Já guardei algum dinheiro
Pro meu corpo ser cremado.
E na guaiaca o suficiente
Prá pagar algum vivente
Que jogue o pó nalgum costado
virado pro sol nascente,
Deste pago da gente,
que tanto tenho cantado.
Ricardo Porto
Livro: Primavera Poética