Por Redação em 31 de Janeiro de 2014
O dia hoje amanheceu estranho... meu corpo todo doÃdo, meus olhos inchados, uma dor de barriga danada e uma vontade de não pensar em nada... porém eu continuo a pensar que tive que deixar meu pai naquele túmulo e que foi a última vez que eu o vi. Por mais que eu tente acreditar que um dia o verei de novo, que seu espÃrito não está ali, que ele continua vivo dentro de mim, a realidade é que nunca mais o verei.
O câncer matou o meu pai em apenas 59 dias... Foram dias tristes, de muita dor, de muito sofrimento, mas também de muita luta, força de vontade, muita cumplicidade e muito amor. As suas últimas palavras foram pedindo para que eu não deixasse mais que judiassem dele, pois ele não agüentava mais injeções, medicamentos e exames a toda hora. Estas não saem da minha cabeça e isso é o que me dá um pouquinho de conforto. Saber que não tinha mais possibilidade de cura, me faz pensar que a morte aliviou as suas dores e o seu sofrimento.
Amo meu pai com todas as minhas forças. Ele era essencial em minha vida, esteve ao meu lado em todos os momentos e me ensinou que mais importante do que tudo é estender a mão e ajudar a quem precisa. Sua história foi de luta e até os últimos dias da sua vida ele lutou, queria uma vida melhor, não só para ele, mas para todos e todas, sabia que a sua falta afetaria a vida de muita gente, pois ele com seu jeito prestativo e humilde acabou se tornando o braço direito de muita gente.
Ontem o Padre perguntou se eu queria dizer algumas palavras. Na verdade eu queria dizer muitas, mas não consegui, engasguei e ao olhar aquele túmulo se fechando eu só pude ficar quieta, me lembrando de que ele me ensinou as coisas mais interessantes que guardo comigo. Ensinou-me a mergulhar, a andar de bicicleta, a jogar futebol, a andar de skate, a esfregar bem o pé quando tomo banho, a comer pão com banana, a tomar café com farinha de mandioca...
Lembro-me que quando eu era pequena, esperava ele comer toda sua comida e deixar um restinho de feijão no fundo do prato. Em cima daquilo colocava arroz e comia, a comida só tinha sabor se eu comesse no prato dele com restinho de feijão.
Era ele que me levava no banheiro de madrugada, pois nosso banheiro era na rua e eu morria de medo e também era ele que benzia a minha barriga quando ela doÃa. Nesses últimos dias eu descobri que a benzida milagrosa não passava de um Pai Nosso que ele sussurrava baixinho, mas que eu acreditava ser palavras mágicas, que me curavam instantaneamente.
Mais que um pai, um amigo, um companheiro, um parceiro pra tudo, um avô maravilhoso (que todo dia levava uma balinha de hortelã para as netas) e um grande exemplo de força e coragem. Despedi-me do herói, do melhor jogador de futebol que conheci. Hoje a dor no coração está insuportável, eu acreditei junto com ele até o fim que alguma coisa poderia estar errada, que daqui a pouco ele estaria em casa outra vez
Infelizmente não foi assim. Mesmo ao partir ele me ensinou que ninguém é eterno, que cuidar, que amar, que se dispor a ajudar são coisas que dão sentido a nossa vida. Ter gratidão, ter coragem, ter esperança, ter dignidade, ter sensibilidade e ser solidária são caracterÃsticas essenciais de uma grande pessoa. Meu pai era um homem de fé, ele acreditava que para se ter as coisas, bastava acreditar muito, e ele acreditou até o fim.
Pai! Esteja em paz! Obrigado! Obrigado! Obrigado! E muito Obrigado por me amar incondicionalmente por toda a nossa vida juntos, por querer me dar a mão nos seus últimos dias, por me deixar te amar até você ficar enjoado de mim, e por exigir o melhor que eu poderia fazer até o fim. Amo-te e viverei esperando para saber se realmente um dia a gente vai se reencontrar. Seguirei do jeitinho que você me ensinou, lutando, batalhando, ajudando e teimando até o fim!!!
Da tua filha, Josiani Arruda